Portugal é dos países menos atingidos, mas de 2004 a 2007 morreram 3,5 mil milhões de abelhas no País. A varroose é a culpada. Os espanhóis já arranjaram solução: fabricar 'superabelhas'
As abelhas estão a desaparecer. Nos últimos anos, um pouco por todo o mundo, milhões de colmeias têm sido dizimadas. O cenário é apocalíptico para os insectos, mas também para a humanidade. Como disse Albert Einstein: "Quando as abelhas desaparecerem da face da Terra, o homem tem apenas quatro anos de vida." Mas porque estão as abelhas a desaparecer? "A causa é ainda desconhecida, o que os investigadores sabem é que há vários factores que podem ter causado esta situação", explica o professor universitário e especialista nesta matéria Miguel Vilas Boas.
Apesar de as abelhas terem um inimigo sem rosto, há uma doença que os especialistas acreditaram ser responsável por várias mortes: a varroose. Considerada a "sida das abelhas", este vírus é provocado por um ácaro - a varroa - que "enfraquece as abelhas e torna-as susceptíveis a outras doenças".
Só no ano passado em Espanha desapareceram nove mil milhões de abelhas. Para combater este voo para a extinção, uma equipa de universitários de Córdoba decidiu criar aquilo a que chamaram "superabelhas". Neste processo as rainhas são inseminadas e as abelhas nascem fortificadas, resistentes a ácaros.
Em Portugal a população de abelhas também tem vindo a diminuir, mas Vilas Boas acredita que "não houve nenhum surto mortífero como nos outros países". Tal é confirmado por João Casaca, da Federação Nacional de Apicultores (FNAP). "Em todo o País, foi-nos comunicados apenas uma situação de um apicultor que viu as suas colmeias completamente dizimadas."
Mas a varroose também preocupa os apicultores nacionais. Tendo em conta o boletim do Ministério da Agricultura, só entre 2004 e 2007 houve uma quebra de 3, 5 mil milhões de abelhas. O número impressiona, mas é amenizado por especialistas que garantem que o número de apicultores também reduziu significativamente. Ora, "menos apicultores, menos abelhas".
Ainda assim, a varroose está presente em Portugal. E os apicultores têm noção do perigo, pois é a doença que destrói mais colmeias no País. Aliás, consciente desta situação, o Ministério da Agricultura chegou a distribuir gratuitamente produtos para travar o flagelo. Agora, já não são doados, mas continuam a ser comparticipados. É talvez por isso, que o combate à varroose em Portugal se centre num único método. "O uso de acaricidas", esclarece João Casaca, que garante que por cá não se criam "superabelhas" como em Espanha. Tal também não está previsto num futuro próximo. Isto porque, como explica Vilas Boas "ninguém está a utilizar a inseminação, o único programa que existe é de selecção das rainhas. Nada mais."
Em Portugal, os números também não são tão catastróficos. "É um processo que tem custos, mas está controlado", explica Vilas Boas. Além disso, o País tem a "bênção" de ter uma das poucas regiões do mundo onde a varroose não existe, como é o caso de algumas ilhas dos Açores.
Apocalipse a preto e amarelo
O perigo de extinção das abelhas é real. Nos EUA, a segunda potência da apicultura a seguir à China, mais de 60% das populações de abelhas desapareceram em 24 estados. A crise é tal que o Congresso teve de aprovar um plano de emergência, como faz em tempo de guerra ou de crise económica. Aliás, sob o pretexto económico, a secretária da Agricultura norte-americana lembrou que "sem abelhas deixa de existir Coca-Cola". Como quem diz: senhores do capital mexam-se, que a coisa é séria.
Os números na Europa não são mais animadores. Segundo o diário espanhol El Mundo, em Itália, Bélgica e Alemanha metade das abelhas desapareceram. A varroose não será o único problema e Vilas Boas acredita mesmo que "quando descobrirem a causa real, ela vai variar de país para país". João Casaca lembra algumas das potenciais causas em diferentes países: "Na Alemanha tem a ver com o cultivo de sementes, em França pensa-se que seja a utilização de pesticidas nas culturas e em Espanha será a sobreprodução. Há apicultores a mais."
Certo é que estes polinizadores continuam a desaparecer. E como seria o mundo sem abelhas?. "Era uma catástrofe", alerta Miguel Vilas Boas. "Todo o ecossistema seria alterado e Einstein, provavelmente, teria razão. Seria uma crise muito pior que a económica porque nós [humanidade] ficaríamos sem comida." É por este cenário que muitos especialistas chegam a evocar o hino do Reino Unido. God Save the Queen. Em português, Deus Salve a Rainha. A rainha das abelhas, entenda-se.
Especialistas dizem que abelhas estão a fugir e a morrer , DGV desconhece fenómeno
Especialistas em apicultura afirmam que Portugal está a sofrer um fenómeno de fuga e morte das abelhas mas a autoridade sanitária animal diz que não há estudos que o comprovem e rejeita críticas dos apicultores.
De acordo com a engenheira agrónoma Andrea Chasqueira, especializada em apicultura, as abelhas em Portugal "estão a fugir das colmeias, sem regressar", sendo as causas da fuga e o destino das abelhas ainda desconhecidos.
Apesar de não existirem resultados científicos, Andrea Chasqueira considera que "o uso de herbicidas e pesticidas nos campos pode ser a principal causa para o desaparecimento das abelhas das suas colmeias."
O presidente da Federação Nacional de Apicultores de Portugal (FNAP), Manuel Gonçalves, entende que "as abelhas morrem fora da colmeia, que fica despovoada", o que leva ao aparecimento de doenças nas colmeias, uma vez que a presença destes insectos, muito autónomos, impede o aparecimento de maleitas.
Manuel Gonçalves acusou a Direcção-Geral de Veterinária (DGV), a autoridade sanitária animal, de estar "pouco preocupada com os problemas dos apicultores portugueses" e disse que "nem 30 por cento dos produtores recebe a ajuda comunitária" de apoio à apicultura, pelo que "26 por cento das colónias não são abrangidas" por este fundo.
Em reacção a estas informações, fonte oficial da Direcção-Geral de Veterinária disse à Lusa que a diminuição do número de colmeias "tem sido sempre associada a causas naturais (incêndios, condições climatéricas adversas, falta de pólen, maneio deficiente) ou a causas sanitárias (doenças das abelhas)" e esclareceu que "as ajudas comunitárias no âmbito da apicultura são atribuídas através do Programa Apícola Nacional."
A Direcção-Geral de Veterinária disse também que tem organizado anualmente cursos técnicos multidisciplinares e implementado desde 2008 um Programa de Controlos Sanitários a apiários a nível nacional.
De acordo com a Federação Nacional dos Apicultores de Portugal e com a Direcção-Geral de Veterinária, em 2004 estavam registados 22 mil apicultores no País, um número que caiu para os 15. 267 em 2007, o que se traduz numa variação negativa de 30,6 por cento.
Em 2004, estavam também registadas 580 mil colmeias, sendo que em 2007 havia apenas 555.049, um decréscimo de 4,3 por cento.
Geograficamente, a Beira Litoral é a região com maior número de apicultores (25,6 por cento do total) mas é também a zona onde os apicultores têm menor dimensão: em média, existem 17,8 colmeias por apicultor.
O Algarve e o Alentejo são as zonas continentais com menos apicultores mas em que estes têm maior dimensão: em média, existem 95,5 e 62,4 colmeias por apicultor, respectivamente.
Os Açores são a região do País com menos apicultores e menos colmeias e a Madeira é aquela em que os apicultores têm menor dimensão (cerca de 11 colmeias por apicultor).
Recentemente, têm-se conhecido vários casos de ataques de abelhas por todo o mundo, resultando daqui algumas mortes: em Portugal, só na Zona Centro, há registos de duas mortes provocadas por ataques de abelhas, um em Montemor-o-Velho e outro em Tábua, no Distrito de Coimbra.
Fonte : Diario de Noticias e Visão
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