A intenção de reduzir o défice orçamental numa dimensão incomportável num curto período de
tempo, para além de arrastar o país para uma profunda e prolongada recessão económica está a
por em perigo o funcionamento do próprio Serviço Nacional de Saúde (SNS), vital para todos os
portugueses. E isto porque os cortes nas transferências em 2012 para o SNS, associados aos já
verificados em 2011, assim como a aprovação de uma lei na Assembleia da República em
Fevereiro deste ano que reduz ainda mais os fundos disponíveis para a saúde e que criminaliza,
atingindo não apenas dirigentes e gestores mas até os próprios responsáveis pela contabilidade,
por qualquer compromisso que ultrapasse os limites daqueles fundos definidos
administrativamente, vai por em causa o funcionamento nomeadamente dos Hospitais EPE.
Entre 2011 e 2012, as transferências em valores nominais do OE para o SNS diminuem de 8.250
milhões € para 7.590,1 milhões € , e para o Hospitais EPE baixam de 4.510,5 milhões € para
4.210,5 milhões €. O confisco aos trabalhadores em 2012 do subsidio de férias e de Natal não é
suficiente para compensar estas elevadas reduções verificadas num único ano, quando os preços
e impostos (ex. IVA) sobem. Em anos anteriores a insuficiência das transferências determinou
elevados prejuízos nos Hospitais EPE e o disparar das dividas do SNS. Desde a sua criação em
2003, os Hospitais EPE já tiveram 2.267,4 milhões € de prejuízos operacionais (os directamente
referentes à sua actividade principal que é a prestação de serviços de saúde à população). Como
consequência da insuficiência das transferências do Orçamento do Estado, e para que os serviços
do SNS pudessem funcionar e prestar cuidados de saúde à população, nomeadamente
hospitalares, no fim do 4º Trimestre de 2010, as dividas do Serviço Nacional de Saúde atingiam
2.468,4 milhões € e, no fim do 3º Trimestre de 2011, já eram 2.932,4 milhões €, ou seja,
aumentaram 464 milhões € (+18,8%) em apenas nove meses.
Deste total, a maior parte refere-se
aos Hospitais EPE cujas dividas, em 2010, já representavam 67,2% do total da divida tendo
aumentado, no 3º Trimestre de 2011, para 75,4% do total do endividamento do SNS.
Em 2012, a “troika estrangeira” e o governo PSD/CDS reduziram significativamente as
transferências do OE para o SNS, e ao mesmo tempo, por lei, criminalizaram qualquer
compromisso que ultrapasse os limites de fundos disponíveis definidos administrativamente, que
correspondem a “75% da média da receita efectiva cobrada nos últimos dois anos nos períodos
homólogos, deduzida dos montantes de receita com carácter pontual ou extraordinário”, ou seja,
uma redução superior a 25%, isto é um valor ainda inferior às transferências a que o SNS e os
Hospitais EPE têm direito em 2012 (a redução nas transferências, entre 2011 e 2012, foi de 8,8%
para o SNS e de 6,6% para os Hospitais EPE).
É evidente que com esta redução de facto tão
elevada e com a ameaça, se forem ultrapassados aquele limite de 75%, dos “ titulares de cargos
políticos, dirigentes, gestores ou responsáveis pela contabilidade que assumam compromissos em
violação do previsto na presente lei incorrem em responsabilidade civil, criminal, disciplinar e
financeira, sancionatória e ou reintegratória” é previsível que muitos serviços de unidades de
saúde, nomeadamente dos Hospitais EPE, fiquem impossibilitados de funcionar normalmente e
que tenham de paralisar ou fechar serviços, com consequências dramáticas para a população.
A racionalização das despesas do SNS, o aumento da eficiência na utilização dos meios
humanos, materiais financeiros postos ao dispor do SNS, e o combate ao desperdício e à má
gestão, etc., são absolutamente necessárias e urgentes, mas isso não pode ser feito da forma
cega e “economicista” e à custa da redução significativa dos serviços de saúde prestados à
população, nem por meio de um aumento brutal das taxas moderadoras, como sucedeu em 2012
que subiram, em média, 100%, como está a ser feita pela “troika estrangeira” e pelo governo
PSD/CDS. O combate ao desperdício, à subutilização ou má utilização de meios (por ex., os
blocos operatórios dos hospitais continuam a ser utilizados em apenas 57% do seu tempo e
milhares de portugueses estão em lista de espera), à má gestão, etc. é necessário fazer através
do seu levantamento exaustivo e rigoroso, com a participação dos profissionais de saúde, que
deve ser tornado público e objecto de debate também público, com o objectivo de que sejam
tomadas medidas rápidas e rigorosas para os eliminar.
O Tribunal de Contas, numa auditoria que
fez há já vários anos ao SNS concluiu que o desperdício, a má utilização e a subutilização dos
meios, e também a má gestão, representavam cerca de 20% dos custos do SNS. Apesar disso, o
Ministério da Saúde nunca fez nada para alterar a situação. A própria ERS, no seu recente
relatório “Análise da Sustentabilidade Financeira do SNS – 29.9.2011” – segue o mesmo caminho,
propondo medidas que agravam as dificuldades das famílias (aumento de taxas, redução de
isentos, etc.) , sem fazer qualquer levantamento rigoroso da situação do SNS. O governo e a
“troika estrangeira, no lugar de mandarem fazer esse levantamento, optaram por medidas
administrativas cegas que só podem levar à destruição do SNS.
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