Há mais de 80 anos, Keynes, um economista que queria salvar o capitalismo, perante um contexto
muito semelhante ao atual (estava-se no inicio da 1ª grande recessão económica de 1929-33, e
agora estamos mergulhados em plena 2ª grande recessão económica), e confrontado com políticas
muito semelhantes às impostas pelo BCE/FMI/Comissão Europeia e pelo governo PSD/CDS,
escreveu o seguinte: “”Com homens e fábricas sem ocupação, é ridículo dizer que não podemos
pagar novos desenvolvimentos. …Quando temos homens desempregados e fábricas ociosas e
mais poupança do que estamos a utilizar internamente, é completamente imbecil dizer que não
temos dinheiro para essas coisas. Porque é com homens desempregados e com fábricas ociosas, e
com nada mais, que essas coisas se fazem” (Keynes-Hayek: o confronto que definiu a economia
moderna, pág. 70).É precisamente esta política que Keynes designou por “ridícula” e “imbecil” que
está a conduzir a U.E. e Portugal ao descalabro económico e social.
Em três anos de governo PSD/CDS e de “troika”, ou seja, entre 2011 e 2013, a taxa oficial de
desemprego aumentará de 12,4% para 18,9% (+351.900 desempregados), e a taxa real de
desemprego que inclui os desempregados que não constam dos números oficiais de desemprego,
subirá de 17,7% para 28,2% (+59,3%). No fim do ano de 2013, o desemprego oficial atingirá
1.040.800 portugueses, e o desemprego real, calculado com base em dados do INE, deverá atingir
1.641.000 portugueses. É um número assustador que, a continuar a actual política recessiva e
destrutiva da economia aplicada em plena recessão, poderá ainda ser ultrapassado. Ele também
revela a total inadequação da política que está a ser imposta ao país para reduzir o défice.
Em três anos de “troika” e de governo PSD/CDS, o valor do PIB perdido devido ao desemprego
varia entre 91.468 milhões € e 142.273 milhões €, conforme se considere o desemprego oficial ou o
desemprego real. É um valor que oscila entre 55% e 85,5% do valor do PIB total de 2012. Estes
números, embora indicativos, dão já uma ideia da dimensão da riqueza que é perdida devido ao
elevado desemprego que resulta da política recessiva de destruição de emprego.
No “Memorando” inicial de Maio de 2011 previa-se, para 2011, um défice de 5,9%, mas o défice
real, sem medidas criativas, atingiu 7,4%. Se comparamos com o valor do défice real de 2010 –
9,6% - conclui-se que se verificou uma redução de 2,2 pontos percentuais. Para 2012, estava
previsto no “Memorando” inicial um défice de 4,5%, na 6ª avaliação foi fixado um novo valor – 5% -
mas o défice real, segundo Vitor Gaspar, atingiu 6,6% o que significa, em relação ao défice real de
2011 (7,4%), uma redução de apenas 0,8 pontos percentuais. Portanto, em dois anos (2011 e
2012) o défice orçamental real foi reduzido em 3 pontos percentuais (-31,3%), pois passou de 9,6%
para 6,6%. Para os anos de 2013/2015, as previsões já sofreram várias alterações. Por ex., a
previsão do défice orçamental para 2013, que era no “Memorando” inicial de 3%, na 7ª avaliação da
“troika” realizada em Mar-2013 passou para 5,5%, portanto um desvio de +83,3%.
Como consequência da política recessiva aplicada em plena recessão económica, entre 2010 e
2012, a divida pública aumentou mais 43.499 milhões € (+30%), e, em 2014, deverá atingir 215.213
milhões €, o que corresponde a 123,7% do PIB, ou seja, muito mais do que a riqueza criada no país
durante todo um ano. E isto tem um elevado preço. Em 2011, o Estado gastou com juros e
encargos 6.039,2 milhões €; em 2012, esse gasto subiu para 6.960,3 milhões € e, para 2013, estão
previstos no Orçamento do Estado 7.276,3 milhões €. Em apenas 3 anos, o Estado português
gastará com o pagamento de juros e encargos da divida 20.275,8 milhões €, ou seja, quase tanto
como gastará com a educação dos portugueses que será 21.365,6 milhões €. Este aumento tão
elevado quer da divida quer dos juros com a divida ainda é mais insustentável se se tiver presente
que tem lugar num contexto da grave recessão em que o país está mergulhado.
Os desvios que se verificam entre as previsões que serviram de base à elaboração do Orçamento do
Estado de 2013 e as previsões que resultaram da 7ª avaliação da “troika” de Mar.2013 são enormes. A
nível do PIB a quebra aumenta 130%; no consumo privado a diminuição sobe 59,1%; no investimento a
quebra é 81% superior à prevista no OE-2013; a quebra na procura interna é 41,4% superior à prevista
no OE-2013; a diminuição na taxa de crescimento das exportações atinge 77,8%, podendo dizer que
elas vão praticamente estagnar em 2013; a destruição de emprego aumenta 129,4% relativamente à
taxa prevista no OE-2013. É evidente que o cenário previsto pela 7ª avaliação da “troika” é muito
diferente das previsões utilizadas na elaboração do O.E.2013, podendo-se dizer, como foi dito por muitos
economistas na altura, que o cenário macroeconómico do OE-201 é fantasioso, revelando uma total
incompreensão da realidade. A confirmar isso, está já o facto de que em Jan.2013 as receitas fiscais e
as contribuições para a Segurança Social foram inferiores às de Jan.2012 em 82,8 milhões €.
Face a tudo isto, é cada vez mais claro, que se a política da U.E. e interna não mudarem
radicalmente, Portugal não tem qualquer futuro na Zona Euro. O que aconteceu em Chipre, que
para salvar a banca, se confisca uma parcela dos depósitos, é o sinal de uma U.E. sem valores e
de governantes em que não se pode acreditar, que hoje dizem uma coisa e amanhã fazem outra.
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