A banca é vital na vida do país. E isto porque é na banca que a maioria dos portugueses deposita as suas poupanças e, depois, é a banca, utilizando os recursos assim captados, que concede crédito à economia, às famílias e ao Estado para poderem funcionar.
Portanto o dinheiro emprestado pela banca é, na sua maioria, dinheiro depositado pelos portugueses nessa mesma banca. Este é um aspecto essencial que não deve ser esquecido na análise do caso BES/GES e de outros .
É o dinheiro dos portugueses que está em jogo e desaparece, e o não dos banqueiros. Os banqueiros utilizam recursos que são, na sua esmagadora maioria, dos portugueses, e não propriedade sua.
O crédito concedido pelo BES ao BESA (Angola) para além dos limites prudenciais que se transformou num enorme prejuízo a suportar também pelos pequenos acionistas
No setor bancário existem regras prudenciais impostas pelo próprio regulador – o Banco de Portugal – para mitigar (reduzir) o risco que resulta da concentração de crédito e do relacionamento entre contrapartes.
E uma dessas regras importantes é que um banco não deve conceder crédito a uma empresa do grupo que ultrapasse 25% dos seus fundos próprios. Apesar dessa regra imposta pelo próprio Banco de Portugal, o BES concedeu crédito ao BESA (Angola) no montante de 3.500 milhões € que ultrapassou certamente o limite de 25% dos seus Fundos Próprios perante a passividade do Banco de Portugal.
Confrontado com uma pergunta feita por um deputado sobre esta matéria, o governador do Banco de Portugal deu mais uma vez uma resposta que mostra bem a subserviência do supervisor aos banqueiros.
E a resposta foi a seguinte: Como o BESA era uma empresa subsidiária do BES, e era consolidado nas contas do BES, e como esse crédito era um bom crédito esse limite não se aplicava. O certo é que esse crédito não era um bom crédito como a realidade veio a provar, causando elevados prejuízos aos seus accionistas, incluindo pequenos accionistas, e a outros credores contribuindo também para a ruína do BES. Mais um exemplo das consequências do supervisor se encontrar refém do capital financeiro.
Uma empresa avaliada por 700 milhões € para resolver um problema do grupo BES/GES quando valia apenas 250 milhões €, e aceite pelo Banco de Portugal
Outra situação insólita que se verificou na reunião da Comissão de Inquérito Parlamentar,que mostra também de uma forma clara que o supervisor está refém dos banqueiros, foi quando o presidente do Instituto de Seguros de Portugal afirmou que nunca tinha percebido por que razão a seguradora Tranquilidade fora avaliada pela consultora PwC em 730 milhões €, valor este que foi aceite pelo Banco de Portugal, quando valia apenas entre 200 milhões e 250 milhões €.
E aquele valor de 730 milhões € refere-se, como consta também da “Nota técnica” do Banco de Portugal (pág. 4), “à concessão de um mecanismo de garantia ao BES ...através do qual, em caso de incumprimento da ESI, a ESFG se substituiria à ESI no reembolso do papel comercial”.
Por outras palavras, a ESI precisava de apresentar uma garantia de 700 milhões €, e por essa razão a seguradora Tranquilidade foi avaliada por 730 milhões € e aceite pelo supervisor.
Desta forma, a própria entidade de supervisão, aceitou uma garantia fictícia já que o seu valor representava cerca de um terço da divida.
É clara mais uma vez a subserviência do regulador em relação aos banqueiros, o que mostra também o tipo e a qualidade de supervisão bancária existente em Portugal, o que não pode tranquilizar nem os depositantes que confiam as suas poupanças aos bancos nem outros credores da banca.
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O seu raciocínio sobre a banca está incorrecto. A banca não precisa de depósitos para conceder créditos. Eles criam o dinheiro, sob a forma de depósitos a partir do nada.
ReplyDeleteEsse é um dos dramas deste sistema intrinsecamente corrupto que todos nós devíamos ajudar a derrubar.