A causa da fuga dos trabalhadores mais qualificados para o estrangeiro, está a destruir a administração pública e é um obstáculo ao crescimento e ao desenvolvimento do País.
Tem-se assistido nos últimos anos a uma grande preocupação política em aumentar o salário mínimo nacional, descurando a atualização dos salários dos trabalhadores mais qualificados, o que está a provocar fortes distorções salariais no país e a transformar Portugal num país em que cada vez mais trabalhadores recebem apenas o salário mínimo ou uma remuneração muito próxima.
E não se pense que esta afirmação é apenas uma figura retórica ou elitista.
Encontram-se 156 ofertas de emprego para engenheiros civis, eletrotécnicos, mecânicos, agrónomos, cujos salários oferecidos, na sua esmagadora maioria, variam entre 760€ e 1000€.
Isto são remunerações brutas, antes de descontar para o IRS e para a Segurança Social. Como é que o país assim pode reter quadros qualificados?
Mas não são apenas estas ofertas de empregos com salários muto baixos, divulgados mesmo no “site” de uma entidade pública, que mostra o profundo erro desta política de remunerações, com consequências dramáticas para inovação e modernização do país, e para o crescimento económico e desenvolvimento de Portugal.
E isto porque sem trabalhadores altamente qualificados essa modernização e inovação, esse crescimento económico e desenvolvimento será impossível. Para além disso, o país despende uma parte importante dos seus recursos em formar nas universidades jovens altamente qualificados que depois o
abandonam e vão contribuir para o desenvolvimento de outros países, porque não encontram no seu país remunerações e condições de trabalho dignas.
O que está a suceder no SNS devia abrir os olhos aos políticos para esta realidade: os profissionais mais qualificados – médicos e enfermeiros – estão a trocar o SNS pelos grandes grupos privados de saúde, que os atraem oferecendo melhores remunerações e condições de trabalho, com o objetivo de degradar o SNS, o que estão a conseguir devido à inercia do governo e dos partidos políticos, para dominarem o setor de saúde.
Mas tudo isto passou à margem do debate do OE-2022, ou recebeu muito menos atenção e preocupação que foi dada ao aumento do salário mínimo nacional, quando esta questão é, a meu ver, tanto ou ainda mais importante que a subida do salário mínimo nacional em 40€ ou mesmo em 185€.
E até porque uma subida muito elevada do salário mínimo nacional, sem que aumentem os outros salários, agrava ainda mais as distorções salariais.
Entre 2015 e 2022, segundo o Ministério do Trabalho, o salário médio no país aumentará 10,1% (+96€) enquanto o salário mínimo nacional subirá 39,6% (+200€), o que determinará que o salário mínimo, em percentagem do salário médio, aumente de 53,1% para 67,3%.
E isto admitindo que o salário mínimo nacional aumente para 705€ como anunciou o governo.
Se subisse para 850€, aquela percentagem aumentaria para 81%.
Portanto, a remuneração dos trabalhadores mais qualificados é um grave problema nacional que não tem merecido a devida atenção.
A situação na Administração Pública com remunerações praticamente congeladas desde 2009 é dramática, sendo quase impossível a contratação de trabalhadores altamente qualificados e com as competências que necessita.
Em 2020, o salário mínimo nacional, já correspondia a 68,4% do ganho medio dos trabalhadores portugueses. É evidente que Portugal está-se a transformar num país de salários mínimos. Segundo dados dos quadros de pessoal divulgados pelo Ministério do Trabalho, em 2019 (são os últimos dados divulgados), quando o salário mínimo nacional era de 600€, a percentagem de trabalhares com remunerações entre 600€ e 750€ eram já 52,9% de todos os trabalhadores do setor privado.
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